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Post tilelê-gratidão ou Retrospectiva 2019

2019 está sendo um ano do caralho tenso. Não foi somente uma vez que ouvi sobre o quanto foi traumático, pesado, porradeiro e que queremos logo um 2020 novinho de esperanças. Não foi diferente pra mim: incontáveis porradas certeiras. Mas acabou que, no fim das contas, meu balanço anual é positivo. E eu notei há pouco essa minha mania insistente de repensar o ano, de colocar na balança erros e acertos, para construir novas metas para o próximo ano. Pasmei ao perceber que quase sempre o balanço é positivo. Escapei, não sem muitos arranhões, de algumas coisas bastante difíceis. E sigo com o otimismo meio besta de quem se acredita protegido. E, sim, apesar de eu ser a maior reclamona (vai lá, tô tentando mudar), acho que sou bastante grata, para ser justa com essa vida que tira e dá a todo tempo. Faz parte da sorte. E eu acredito bastante na sorte. 2019 trouxe desafios aparentemente invencíveis, impossíveis, trouxe sentimento de revolta contra possíveis injustiças e muitos questionamen

Sobre mudanças e recomeços

Não à toa o título, já que, nesse momento, estou de mudança (fisicamente). Porém, algumas mudanças começaram já há algum tempo. Vamos lá, esse vai ser bem pessoal: quando pensava em comportamentos internalizados, traços de personalidade etc, raramente pensava em possíveis mudanças. Sabe "pau que nasce torto não se endireita?" Pois é. Depois de um tempo – e de algumas porradas –, percebi que precisava mudar. Não tô falando aqui daqueles defeitos de entrevista de emprego, tipo perfeccionismo e ter padrões muito elevados. Defeitos que viram qualidades. O papo é sobre traumas e experiências que fazem a gente agir de forma predatória... Nos tiram do papel de vítimas para algozes, prontos a construir novos traumas em outrem. E aí... Bom, aí a gente começa a pensar em melhorar, né? Pensa que terapia é uma opção, pensa na desconstrução desses traumas que formaram esses comportamentos e até pensa que não é mais só nossa responsabilidade. Ledo engano! Comecei a terapia achando que ia d

Recuerda me

Não sei se é comum, se acontece com todos. Mas sabe aqueles momentos em que, como se houvesse uma pausa, olhamos de fora e percebemos que aquilo ficará na memória e que, sendo bom ou ruim, causará dor ou saudades, algum dia? Uma sensação de adeus, enquanto ainda acontece. Penso que essa seja a consciência da construção das memórias. Um sorriso num rosto marcado pela tristeza ou pela apatia há dias; uma lembrança vinda de uma mente que há muito se esqueceu... Nesses míseros segundos durante um acontecimento, que poderia ser sem relevância, vem a certeza do poder da efemeridade. E de que as coisas efêmeras são as mais marcantes. Já dizia Drummond: Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão.

Sobre solidão e liberdade...

Eu costumava andar em grupo na escola. Desde o ensino fundamental, eu era parte de algo, ainda que fosse somente um trio. Entretanto, na faculdade, percebi que aos poucos me desgarrava. Fosse por culpa da depressão ou da maturidade, o interesse em dividir amenidades ficou escasso. Não que eu não fale do clima, da política ou do futebol, divago também sobre a vida e a morte, e até sei quais são os filmes e músicas do momento. Mas criar vínculos em cima disso deixou de ser necessário, aparentemente. Sempre tive poucos amigos. Costumava dizer que tinha poucos e bons. Talvez isso também tenha mudado. Deixei de ser a pessoa que andava e conversava sempre com as mesmas pessoas e que corria atrás do que pensava ser as boas amizades. A perspectiva mudou. Hoje, falo com muita gente. Conto um pouco pra cada, distribuo um punhado de amenidades quase que igualmente entre aqueles que chamo amigos. Mas, no fim do dia, o vazio é quem me preenche e inunda. E isso não é ruim. É uma sensação muito mai

Insone

Hoje foi um dia bastante estranho. Perdi o sono - é raro acontecer - e, como não estou na minha casa, o tempo parecia passar mais arrastado, talvez por eu não me reconhecer nos cômodos ou na falta de uma TV ligada. Sem conseguir pregar o olho, observei bem a textura das paredes e do teto. Adormeci. Por menos que duas horas, adormeci. E acordei de novo. Com calor e sede, fui até a cozinha. Mas não sabia do encontro. Ainda no corredor, sinto a pancada no braço e vejo um pequeno vulto que corre muito no azulejo estampado, o que dificulta minha visão. Era uma lagartixa, achei. Não tenho nada contra lagartixas, nunca tive. Não fazem mal, nem barulho, não deixam qualquer cheiro e ainda me livram dos insetos. Eram boas podia se dizer, na minha concepção; pelo menos até aquele momento. O encontro insone não foi bem-vindo. A mente ansiosa e ociosa, seja pelo excesso de pensamentos, seja pela falta de ocupação, surtou. E eu me vi, a destemida dos insetos, e - vá lá, exageradamente - temida por e

Crisis

Aconteceu de novo. Minha cabeça se mistura à rua. Ao barulho, ao cheiro, à textura. Mais uma vez, o som das buzinas tocam no meu átrio. O cheiro da falta de ar invade os meus pulmões e arrebenta as minhas narinas. Eu perco meu contorno, de novo. Quantas vezes mais acontecerá? Me misturo ao piche. Sou chão e parede e nada. O vazio do vão do ralo. Faço parte e não pertenço. Perco o eu ou viro o todo.